quarta-feira, 11 de agosto de 2010

DIVERSOS OLHARES SOBRE O AUTISMO
ABORDAGEM PSICANALÍTICA


Consciente de todas essas classificações que temos sobre autismo, será abordado a seguir autores que possuem uma abordagem psicanalítica.
Há décadas é objeto de estudo, mas ainda um mistério, muitas perguntas, dúvidas e sem muitas respostas.
Desde a década de 40 quando foi descrito pela primeira vez os cientista se empenham para descobrir a causa do autismo já se caminhou bastante em pesquisa desde então ainda que permaneça sem cura.
Levando-se em consideração as atuais evoluções as crianças autistas de hoje tem uma maior capacidade de desenvolver seu potencial e com isso se incluir socialmente, mas ainda temos muito a evoluir.
Os pais de crianças autistas ao receber o diagnóstico tendem a pensar que seu filho é pior que outras crianças e normalmente carrega com ele a frustração e negação, que dificulta assim perceber que seu filho é simplesmente diferente tornando desta forma esta criança objeto de angustia familiar.
Segundo Maud Manoni (in Serra, 2007) a criança autista é submetida a “reeducação” das mais variadas e colocada em diversos lugares como “retardada”, “doente”, “doente mental”, ficando assim atrelada a classificação que o outro faz dela.
De acordo com Dolto (1985) “a criança autista não teve um defeito na construção, mas teve um incidente na sua constituição”. Afirma Dolto que a criança autista sofre uma separação da figura materna em momento em que ainda não está preparada para que isso aconteça.
Segundo a psicanálise existe uma má formação no encontro entre mãe – bebê, o primeiro elo nesta relação não se realiza não é constituído. A criança não tem consciência do outro e, sendo assim, não forma o eu. Então a criança vai à busca do outro que atenda as suas necessidades. Não encontrando este retorno ela volta para si, pois não houve a comunicação.
Para Winnicott (1976) “o problema do autista é fundamentalmente de desenvolvimento emocional, o autismo não é uma doença”, pois não se encontra resposta nas causas físicas, genéticas, bioquímicas ou endócrinas.
Para ele o autismo se dá no momento em que a relação da criança com o meio ambiente e fatos individuais é perturbada e assim não é feita a construção mental do objeto, é um verdadeiro “cair sem fim” sem qualquer amparo.
A tese defendida por muitos é de que existe um autismo primário normal que é útil no desenvolvimento infantil quando pessoas e objetos exteriores é uma extensão do seu próprio corpo.
Para a criança que não está preparada e que não formou a consciência de um eu diferenciado do mundo, a separação é catastrófica. Ela precisa se conscientizar e perceber que existem dois corpos e não um só, se não no momento da separação ela se sentira despedaçada, pois a separação se dará em momento precoce.
As crianças autistas possuem uma rejeição no contato corporal e esse fato se explica na falta de contato afetivo e físico em se tratando de mães depressivas.
A consciência da figura da mãe provedora não foi internalizada de forma duradoura, houve uma falha na comunicação entre mãe-bebê não havendo assim um equilíbrio da vida emocional. A criança não percebe a “fusão” aparente com o corpo da mãe até o momento da separação, por isso se sente despedaçada, não encarando o outro, pois não quer ser vista desta forma.

TEORIA SISTÊMICA


De acordo com Maria Helena Sprovieri (1998) segundo Macedo(1991) “ a característica do padrão de interação de um sistema é a circularidade , que a interação envolve em uma espiral de feedbacks recursivos , ao contrario da relação linear”
Na família isso quer dizer que cada indivíduo influência e é influenciado pelos outros isso é um fato no cotidiano de um núcleo familiar.
Para Ackerman(1986) “a família representa o sistema nucleador de crescimento e de experiências do ser humano é também responsável pelos níveis de desempenho ou de falha ,portanto constitui a unidade de doença e saúde.”Sendo assim no momento em que os pais recebem o diagnostico de um filho com autismo, normalmente carregam com eles a frustração e negação, os pais se vêem diante de uma criança a qual possuem limitações que irá comprometer o processo de expectativas quanto ao futuro ,eles se vêem frente a um desafio e são obrigados a ajustar toda a sua vida social, financeira, profissional e emocional a esta nova situação que se apresenta.
Segundo Milgram e Atzil (1988) as mães de crianças autistas por estarem mais envolvidas com os cuidados que essas crianças exigem apresentam um maior risco de crise e estresse que o pai, pois existe uma tendência maior das mães em assumir esses cuidados para si, mas ao mesmo tempo há uma cobrança da parte delas por maior envolvimento dos pais, alegam se sentir só nesta tarefa tão estressante.
Os pais alegam que por estarem mais envolvidos em gerir recursos para atender as necessidades da família nesta nova fase que acarreta maiores gastos, não possui condição de contribuir com a ajuda nos cuidados com a criança.
O fato de a criança autista ter incapacidades cognitivas e uma grande dependência do outro no seu dia a dia causa estresse de forma direta e indiretamente não só nos pais, mas em todos os membros da família.
Existe uma grande dificuldade de adaptação da família para com a criança autista e do autista para com a sua família.
O autista possui dificuldade de interar-se socialmente, o que faz com que ele possua problemas de conduta, refletindo assim em sua família e em todos envolvidos com a situação.
A família de um autista tende a viver em crise permanente, vive em um estado de desequilíbrio acentuado, e com isso tem uma maior dificuldade de manter um desenvolvimento emocional de todos os seus membros.
Se desejarmos compreender melhor o autismo devemos levar em consideração a constituição humana que em sua formação prioriza o encontro com o outro, aquele que desempenha a função materna , responsável por sua sobrevivência e que lhe apresenta a cultura , é em busca desse outro que o bebê vai , e é esse contato que molda a mente e o cérebro humano .
E é através desse contato e dessas relações sociais que a criança interpretará o mundo e ao mesmo tempo se fará interpretar.
Esse encontro entre a criança e o Outro Primordial é imprescindível, e é a partir daí que ela identificará nos outros como deve agir para que seja reconhecida.
Os atos de reconhecimento entre a criança e o outro são recíprocos e transformados em função simbólica pelos traços lingüísticos que organizam esse intercambio.
E quando falamos de autismo estamos falando do fracasso dessa função primordial, a entrada no campo da linguagem, não acontece o reconhecimento recíproco.
O que existe no caso do autismo é uma ruptura onde com isso fecha a porta de entrada dessa criança para o mundo propriamente humano.
O ser humano tem a grande necessidade de interagir socialmente para se desenvolver e construir uma instância psíquica inconsciente e com isso conquistar o seu lugar único.